quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Palavras que nunca disse.

Já se tinham passado três anos. Tiveste um AVC. Nos últimos anos, não sabíamos nada, pelo menos eu não sabia...Não sabia como lidar, ao ver-te assim. Não sabíamos se estavas bem, se estavas mal, o que estavas a pensar ou sequer se estavas consciente. Já não falavas e mal te mexias desde aquele dia. Foram três anos que estiveste a sofrer e nós á tua volta, sempre com esperança, sofríamos calados. Lembro-me da primeira vez que te vi deitada na cama do hospital, de te dar a mão, logo a mão da parte do corpo, que ficou paralisada e lembro-me da sensação que tive: um nó apertado na garganta e a sensação que as lágrimas me iam cair...Tive medo. Mas não chorei, tentei fazer-me de forte e mostrar-te que ias ficar bem. Os dias foram passando e tua situação ia piorando, se bem que de havia dias que estavas mais "consciente" e lembro-me que, nesses dias, quando te íamos ver, agarravas as nossas mãos, com a mão que não estava paralisada, e sorrias...Era tão bom...sabes? Havia sempre uma esperança e nesses dias, passavam-me milhares de memórias pela cabeça e houve uma noite em que chorei. Chorei de não sei bem de quê...Talvez das imagens que me passavam pela cabeça. Passou-me todos os momentos que passei contigo, desde eu pedir-te colo, quando era pequenina (o quanto eu gostava) até aos últimos dias, em que a primeira coisa que me perguntavas, quando estava contigo, era pelo meu namorado. Mais uma vez senti medo. Senti, pela primeira vez que te ia perder. E sabes? Sofri tanto, e nunca me queixei, porque ao mesmo tempo vi a sorte que tinha e tenho. A sorte de ter um dos maiores bens que se pode ter: Amor. Sim, estou a falar dele, aquele HOMEM que nunca te deixou, que esteve lá todos os dias, desde a primeira á última hora da hora das visitas, no hospital. Até ao último dia. Tu não conseguias falar, Parte do teu corpo estava imóvel, apenas mexias um braço e, nos últimos anos, já mal o mexias; apenas movias a cabeça e pestanejavas os olhos e, nos últimos tempos já nem isso, passavas os dias a dormir e, mesmo assim, ele estava lá. O homem que sempre esteve contigo, o pai dos teus filhos, teu marido, estava lá. E eu ouvia-o falar contigo, mesmo sem receber resposta e sem saber se o ouvias. Não tirava os olhos de ti, estava sempre preocupado, a aconchegar-te o lençol para tapar o frio ou destapar o calor. Era ele que te dava comida. Ele não te deixou. Era ele. Foi ele. O meu avô. Passado três anos, faleceste...Sim, porque digam o que dizerem, tu não morreste. Pelo menos, não nas minhas memórias. Foste a primeira pessoa que perdi e acho que na altura não tive a consciência disso...Agora, nos últimos tempos, tenho sentido...Tenho sentido imenso a tua falta. Ás vezes tento lembrar-me da tua voz e sonho muitas vezes contigo, o que é bom.
Sinto que estás comigo, todos os dias. E digo-te, em pensamento, que te amo, porque nunca te disse e só queria voltar o tempo atrás para te dizer. Hoje, não deixo nada por dizer. Amo-te Avó.

2 comentários:

  1. Li e adorei! Chorei, sabes porque tenho uma historia idêntica e sinto tantas saudades...
    Perder alguém doi tanto, principalmente quando se gosta tanto e quando se sabe que fez tudo por nos!
    *Mafalda

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    1. Ainda bem que gostaste e sabes? É bom ter saudades. E também é verdade, dói mesmo! Beijinhos*

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